Cidade dos cavaletes

Tentei manter um registro hoje de quantas obras acontecem simultaneamente em Novo Hamburgo, enquanto vinha de casa para o trabalho, mas não teve como. Depois de 25 minutos no carro, para um percurso que geralmente leva não mais do que 10, e ainda sobreviver à fauna que habita o sempre surpreendente trânsito hamburguense, perdi a noção dos números que vinha registrando.

Que fique claro: Novo Hamburgo precisa de obras, muitas delas, e é bom ver que a prefeitura está se mobilizando quanto a isso. Mas é um tanto quanto curioso ver os métodos de trabalho das diversas autarquias diferentes em questão – se não estou errado, Comusa e Trensurb são responsáveis pelas mudanças.

Em janeiro e fevereiro, meses em que esta cidade esteve (como sempre acontece nestes dois meses) vazia e abandonada, não havia trabalho nenhum em parte alguma. Se tu via um buraco em determinada rua num dia, podia ter certeza de encontrar ele lá por no mínimo mais duas semanas.

ESTE ponto, especificamente, não mudou, já que os buracos continuam por aí. Mas agora convivem com outros, desta vez propositais. E, engraçado, em maior concentração agora que a cidade tinha sua principal feira do ano, com muito mais gente vindo de fora, e assim podendo – oh, surpresa! – ver como a PMNH trabalha para melhorar a cidade. Mesmo que tenham tido o azar de enlouquecer com o trânsito, conviver com os alagamentos do arroio (um parêntese aqui nos próximos parágrafos, aliás) e, ainda, presenciado o caos geral de todos os serviços daqui.

O parêntese: o prefeito de Novo Hamburgo (Tarcísio Zimmermann, do PT, para quem não conhece) confirmou nesta semana que a chegada do trem à cidade pode atrasar. Motivo: os estudos – que existem desde, sei lá, 1976, quando o Trensurb foi inaugurado – foram MAL FEITOS. Isso mesmo: a cidade aguarda o trem há quase 40 anos, e AGORA que os trilhos estão no caminho – e até eu já acreditava que um dia iria daqui a Porto Alegre de barbada – descobriram que algumas coisas “não foram bem pensadas”.

Para o leitor que não for daqui acreditar mesmo no que eu escrevo, seguem as aspas do próprio Tarcísio. “A Estação Industrial já estava no primeiro projeto da Trensurb, mas houve uma cochilada e ela não foi incluída. (Também) Solicitamos o alargamento e aprofundamento do canal do arroio.A obra é cara porque o canal é longo. Isso deveria ter sido previsto quando foi planejada a vinda do trem. Não podemos ter o trem em cima de uma área que inunda.” É sério, ele disse isso mesmo.

O maldito arroio – um esgoto a céu aberto, sejamos honestos – alaga desde sempre. Ao menos desde 85, quando eu nasci. E só AGORA, em 2011, que descobriram que ele precisa ser modificado para evitar isso, já que vai ter um trem passando por cima. Fecha parêntese.

Novo Hamburgo nunca cansa de me surpreender.

Chico Luz

3 opiniões sobre “Cidade dos cavaletes

  1. Bah, Chico, não sabia que tu tinhas um blog. Te cornetarei, certamente. Aliás, legal um blog sobre assuntos variados.

    Pois bem, eu escrevo e falo muito sobre Novo Hamburgo – seja no Twitter, Carta na Manga ou Impedimento – porque sinto muita falta da minha terra. Das suas coisas boas e ruins. Porque eu a amo. E amar não é tratar com ufanismo com seu ente querido e renegar seus erros. Também não é necessário agir com o amarguismo extremo de que tudo está sempre errado. Nasci numa época em que não se ensinava amar sua pátria. O legal era debochar dela. Por isso, tenho essa relação mais próxima.

    (E também porque sociedade bovina é a curitibana. Sério)

    Acho que a pior fase de Novo Hamburgo se deu na primeira metade dos anos 2000. Dólar desvalorizado, China em chamas, fábricas saindo a rodo. E o pior: povo hamburguense sem ambição. Um povo sem ambição não tem caráter. Eu sentia uma depressão atroz ao chegar em Nóia, de férias, e ver que o plano de vida dos mais próximos era concluir o Ensino Médio, ter um emprego, ir no Alternativo sábado, casar e ter filhos.

    Não pretendiam uma universidade? Aprender uma língua estrangeira? Uma especialização? Uma viagem ao exterior? Uma estante cheia de livros?

    A cidade, aos trancos e barrancos, tem se erguido novamente, mas quanto ao povo, eu ainda tenho incertezas.

    Na minha última estadia em Novo Hamburgo, na virada de 2010 para 2011, encontrei uma cidade mais bonita e em evolução. E me animei com a possibilidade de pode pegar um avião em São José dos Pinhais, desembarcar em Porto Alegre, pegar o trem e chegar em Nóia.

    No entanto, a execução das obras têm demorado a finalizar. E eu entendo. Entendo a preocupação do Tarcísio, em não fazer uma cagada enorme, e entendo tua indignação. Acontece que a obra, do jeito que está desenhada, é de difícil execução. Abrange uma área densamente povoada da cidade e construção subterrânea eu acho muito arriscado. Com o Rio dos Sinos margeando a cidade, corremos o risco de contaminação do aquífero, ainda mais que seu nível piezométrico – e, consequentemente, freático – é próximo à superfície. Qualquer contaminação e a possibilidade de abastecimento da cidade por poços se estrepa.

    Infelizmente, demorou-se demais para corrigir esse erro – ou percebê-lo. Mas ainda bem que há gente preocupada com isso. Do jeito que ela está desenhada, o preço a pagar será muito mais caro.

    (E já basta termos que aguentar trombadinhas como ITO LUCIANO no Legislativo ¬¬)

  2. HAH, como tu me DESCOBRIU? Eu ainda não DIVULGUEI o blog porque quero ver se me comprometo a escrever seguidamente, etc. Quando eu tiver certeza de que sou DISCIPLINADO suficiente para isso, aí faço os ANÚNCIOS, hahaha.

    Mas, sobre o assunto em questão: eu obviamente entendo as preocupações que existem sobre o assunto. O que me mata é que isso só é discutido quando o negócio já está chegando nos finalmentes, como se não tivesse havido tempo suficiente antes. Piada.

    E entendo o teu amor pela cidade, mesmo que eu não o tenha. Acho que o fato de morar aqui por TODA a minha vida até agora me faz ter uma péssima vontade com Noia.

  3. Bah, vi um link no Carta na Manga. Feriados servem pra isso.

    Eu acho válido qualquer tipo de crítica. Como disse no Carta na Manga há um tempo – e parafraseando a Dilma -, “prefiro o barulho incessante da corneta à cegueira voluntária do alento”.

    Prefiro ver questionamentos acerca da cidade, críticas construtivas e destrutivas, a niilismo no-way ou ufanismo plim-plim.

    Bueno, sucesso na bagaça!
    (Ainda espero um blog sobre esportes no NH)

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